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domingo, 18 de julho de 2010

O grande Mandamento Lucas 10, 25- 42





Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisso?”. João (11, 25s)

Imagine alguém que pôde ficar aos pés de Jesus, ouvi-lo quase que exclusivamente, totalmente entregue aos seus divinos pés, que se desligou de tudo, menos do coração, pois é, alguém o fez e este alguém é Maria, irmã de Marta e de Lázaro. Agora, imagine alguém que teve esta oportunidade e deixou passar, e foi por causa das suas preocupações com detalhes, pois é, alguém também o fez e ela é Marta, a irmã da Maria.
As passagens que se seguem são interdependentes e, para entender a profundidade deste ensinamento, é necessário uni-las. É muito importante também vivenciá-las, como um filme passando pela sua mente e também lembrar que, naquele tempo, não havia, hospital, farmácia, consultório, padaria, geladeira, entre outras coisas. Mantenha isso em mente e aproveite o instante.
  
Lucas (10, 23 – 42)
O grande mandamento – E eis que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Ele disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele então respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o seu coração, de toda a tua alma, com toda a força e de todo teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo”. Jesus disse: “Respondeste corretamente; faze isso e viverás”.

Parábola do bom samaritano – Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: “E quem é meu próximo?” Jesus respondeu: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele,  viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se,  cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduzindo-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: “Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei. Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Jesus então lhe disse: “Vai, e também tu, faze o mesmo”.

Marta e Maria – Estando em viagem, entrou num povoado e certa mulher chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: “Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude. O Senhor, porém, respondeu: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.

Lucas não menciona a ressurreição de Lazaro que é irmão de Marta e de Maria, quem irá fazê-lo é o Evangelista João (em) (11, 43s).
No início desta perícope Jesus é interpelado por um legista que é também um profissional médico, profissão também ligada à Lei judaica, ele era um médico daquela época, ou seja, este homem está questionando algo no qual ele é autoridade, algo que ele sabe a resposta e Jesus percebe as suas intenções.
A princípio Jesus responde questionando-o e retira a resposta do próprio legista e depois Jesus exemplifica através da parábola do Bom Samaritano. Nesta parábola Jesus coloca o personagem em uma situação de “semimorto”, Jesus está exemplificando uma situação que deve ser muito bem compreendida por aquele homem, tanto que na conclusão Jesus diz: “Vai, e também tu, faze o mesmo”.
A situação nos apresenta um homem que é vítima de violência e que se encontra semimorto, o que para um médico, seria um paciente em estado grave. Os samaritanos são inimigos declarados do povo judeu, eles são vistos como heréticos, no entanto, naquela história de Jesus, ele é o herói. O sacerdote e o levita, são pessoas com responsabilidades em relação ao Templo, ligados a Deus e ao próximo. São os que sabem falar mas, não põem em prática.
Aqui se apresentam, com toda profundidade, os maiores mandamentos e, se entendêssemos sua verdadeira dimensão, os outros pecados da lista nem precisariam ser citados. Justifico: Quando amo o meu próximo, eu não o mato e sim o protejo, não cobiço nada dele e sim dou-lhe ainda mais.
Em João (11) este homem semimorto é apresentado como Lazaro que significa “socorrido por Deus” e, a diferença é que: ele está morto, é apresentado como um próximo de Jesus e amado por Ele e, Maria e Marta são suas irmãs(, o significa de seu nome é: “socorrido por Deus”). É uma outra história, porém, os mesmos símbolos.
Entrando na parte de Marta e Maria, elas também estão ligadas à estes dois mandamentos. Marta interpela Jesus e Ele não à critica, ela está ligada ao amor ao próximo com o seu zelo em provavelmente oferecer algum alimento para sua ilustre visita, ou arrumar o ambiente para o mesmo – como aquela frase que sempre ouvimos: “desculpe a bagunça nós não estávamos esperando ninguém hoje mas, espera um pouquinho que eu já resolvo tudo”.
Maria está ligada ao amor à (teu) Deus, “ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”. E é este o alimento que nem está à mesa, pelo menos nem sempre o percebemos. Cada coisa ao seu momento, aquele era o momento de aproveitar a divina visita e seus ensinamentos(,). Maria se deu conta disso e não deixou por menos. Jesus diz à Marta: “..pouca coisa é necessária, até mesmo uma só”. 
Aqui Jesus vai além e é a mesma situação do: “e a teu próximo como a ti mesmo”. O ir além é: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o seu coração, de toda a tua alma, com toda a força e de todo teu entendimento” isso tudo está relacionado com a vida no sentido cósmico, o todo, isso vai muito além do próximo, porque como próximos, também somos divinos e como divinos participamos do corpo místico de Cristo e isso nos liga ao todo, ao Reino de Deus, e tudo que Nele está contido.
Se entendêssemos Deus, o Senhor da vida e tudo que envolve o seu projeto (Reino de Deus), se entendêssemos também o nosso compromisso com Ele, então entenderíamos que, quando incondicionalmente amamos à Deus, todo o mais está implícito neste Pai, que também é próximo.
Amar a Deus é transcender no amor, é compromisso com o Reino, é compromisso com o próximo. O Amor a Deus transcende porque Deus está em tudo e em todos, e ai o longe se torna também próximo. E isso responde a pergunta do legista:  ““Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: “E quem é meu próximo?””.

Agora que a sua leitura acabou, eu gostaria de propor que você se imaginasse no lugar de Maria, aos pés de Nosso Senhor. Você pode, pois Ele nos enviou o Espírito Santo que está entre nós. Tente se desligar de todo o resto, não se ajoelhe, fique como quem estivesse aos pés e ouvindo o Mestre, não pesa nada, não fale nada, única e exclusivamente transporte-se e sinta está divina presença.

Quadro: Carlos Araujo - "Jesus cura, ensina e salva" Bíblia - Citações"

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A mulher adúltera - João (8, 1 – 11)







"Porque a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo". João (1, 17)





Certa vez conversando com um grande amigo, Pe. Humberto Jair Dinato, e o assunto era esta passagem, me lembro dele dizendo: “Aquela mulher não cometeu adultério sozinha, se foi um flagrante de adultério, cadê o homem?” E foi a primeira vez que percebi o quanto aquele povo havia distorcido a lei e hoje também percebo o quanto se faz necessário um verdadeiro discernimento.
A duas semanas atrás fui convidado para ir a festa de aniversário do sogro de uma prima, ele estava fazendo 81 anos. Lá encontrei alguns parentes e entre eles o cunhado desta minha prima que é protestante da linha neo-pentecostal e ele dizia: “Todos os assassinos deveriam ser transportados além das duzentas milhas marítimas brasileiras e jogados no mar, apenas com a indicação de que lado fica o continente, quem conseguir voltar está livre.” Então eu o questionei, dizendo: “Você é cristão, esta seria a resposta de Jesus?” E a resposta dele foi: “Deus mandou matar, quando instruiu Moisés a matar os adoradores do bezerro de ouro.” – referindo-se a Êxodo (32, 25 – 29) e a mim que sou católico -   E voltei a questionar dizendo: “Você ainda não respondeu a minha pergunta. Está é a resposta que Jesus daria?” E fiquei sem obter resposta, mas era uma pergunta retórica mesmo, todo aquele que se diz cristão sabe qual é a resposta para esta pergunta.
Acredito que, de vez em quando em nossas vidas, nos deparamos com estas questões e sendo assim resolvi fazer uma pesquisa sobre este assunto, me deparei com um monte de passagens e selecionei algumas, e acho que servirá para lançar uma luz sobre estes assuntos.

A mulher adúltera - João (8, 1 – 11) - E cada um voltou para sua casa.
Jesus foi para o monte das Oliveiras.
Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no Templo. Todo o povo vinha a ele e, sentado-se, os ensinava. Os escribas e os fariseus trazem, então uma mulher surpreendida em adultério e, colocando-a no meio, dizem-lhe: Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes? Eles assim diziam para pô-lo à prova, a fim de terem matéria para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se escrevia no chão com o dedo. Como persistissem em interrogá-lo, ergue-se e lhes disse: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!” Inclinando-se de novo, escrevia no chão. Eles, porém, ouvindo isso, saíram um após outro, a começar pelos mais velhos. Ele ficou sozinho e a mulher permanecia lá, no meio. Então erguendo-se, Jesus lhe disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Disse ela: “Ninguém, Senhor”. Disse, então, Jesus: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”.

Antes de qualquer coisa temos que olhar um pouco o evangelista João, a João pertence a comunidade mais amadurecida, e para endossar esta afirmação basta ver o seu prólogo: No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. Então este evangelista afirma que Jesus participa da Criação e de tudo mais. Ora a Lei também é Verbo, então não seria errado afirmar que: Jesus também participa dos sinais no Êxodo e também com o povo no deserto, inclusive.
Na passagem da mulher adultera João descreve um gesto de Jesus que é tido como obscuro pelos exegetas (nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, “O significado deste gesto permanece obscuro.”), fiquei intrigado com isso e conseqüentemente, mais interessado ainda. A primeira pista é que, esta passagem trata Moisés e a Lei, então, procurei no antigo testamento, Êxodo e Deuteronômio. Então encontrei a resposta em Êxodo (31, 18) Quando ele terminou de falar com Moisés no monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus.” E para mim, tudo ficou mais claro. A diferença entre Moisés e Jesus é que: Moisés é um coadjuvante, ele transmite o que Deus manda para o povo; e Jesus tem a autoridade em si mesmo, Ele é a autoridade.
No Antigo Testamento os Sacerdotes eram os Levitas (Aarão), uma das suas atribuições era auxiliar os julgamentos nas causas controversas e difíceis (Deuteronômio 17, 8 – 10) – "Quando tiveres que julgar uma causa que te pareça demasiado difícil... levantar-te-ás e subirás ao lugar que Iahweh teu Deus houver escolhido. Irás então até aos sacerdotes levitas e ao juiz que estiver em função naqueles dias. Eles investigarão e te anunciarão a sentença. Agirás em conformidade com a palavra que eles te anunciarem deste lugar que Iahweh houver escolhido. Cuidaras de agir conforme todas as suas instruções”. Na situação da adultera ela é levada ao templo, que é o lugar de Iahweh onde estava Jesus que é o Juiz, Sacerdote definitivo, e também é quem escreveu a Lei com os próprios dedos, em resumo a suma autoridade.
Na Lei o direito de atirar a primeira pedra era da testemunha, ou do lado prejudicado. Os anciãos, que eram homens mais vividos, incumbiam-se de transmitir e julgar os casos dentro da comunidade, e esta afirmação está vastamente distribuída pelo Velho Testamento, estes anciãos estavam entre aqueles que queriam incriminar Jesus, eram os escribas e os fariseus, eles eram quem deveriam transmitir a lei aos mais jovens, no entanto alguns adulteravam a lei.
Jesus não julga a mulher, porque nesta situação todos eram adúlteros, os mais velhos e depois os mais novos. Naquele tempo haviam mais de seiscentos pecados na lista dos fariseus (+- 625). Tudo foi adulterado, todos eram adúlteros, e ao meu ver, inclusive este meu primo, ou quem ensinou a ele, quando afirma que Deus mandou matar os adoradores do “bezerro de ouro” e  acredito nisso porque nas escrituras Moisés já havia aplacado a ira de Deus contra os adoradores: (Êxodo 32, 14) Iahweh, então, desistiu do castigo com o qual havia ameaçado o povo., e em (32, 27) Ele(Moisés) lhes disse: ‘Assim fala Iahweh, o Deus de Israel: Cingi, cada um de vós, a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo acampamento, de porta em porta, e matai, cada qual, a seu irmão, a seu amigo, a seu parente.’”  Aqui cada qual forme a sua opinião! A minha é que Deus não voltou atrás e acredito que, foi a ira do próprio Moisés quem mandou matar os que não estavam mais do seu lado. Outro exemplo é o de Pedro, quando puxa uma espada que estava em sua cintura e decepa a orelha direita de um soldado e a resposta de Jesus a isso nós já sabemos. João (18, 10s), Mateus (26, 51s), Marcos (14, 47s) e Lucas (22, 51s).
Quanto ao momento entre aquela mulher e Jesus, não houve condenação mas, somente Justiça, justiça que não vem dos homens e sim de Deus. O mesmo Deus que nos escreve com os seus divinos dedos os seus mandamentos e entre eles está o maior: “amai-vos uns aos outros” Levítico (19, 18), Mateus (19, 19), Marcos (12, 31), Lucas (10, 27), Romanos (13, 9), Gálatas (5, 14) e Tiago (2, 8).
Você inda quer saber o que Jesus estava escrevendo? Que tal: "amai-vos uns aos outros".

Quadro: Carlos Araujo - "Jesus perdoa a adultera" Bíblia - Citações"

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cura de uma hemorroíssa e ressurreição da filha de um chefe. Mateus (9, 16 – 26), Marcos (5, 21 – 43) e Lucas (8, 40 - 56).

Para mim, descrever os textos bíblicos com a mesma paixão que eu sinto por estes ensinamentos, é um grande desafio, pois, por mais que eu queira é sempre insuficiente e sempre sou tentado a retocar o texto, é como uma obra eternamente inacabada, no mesmo tempo estamos lidando com os mistérios de Deus e aqui, um pequeno passo na direção certa já é muito. Mas um dia quero voltar e reescrever a mesma passagem somente para perceber o quanto os meus cabelos brancos, os quais ainda não os tenho, afetarão as minhas percepções, pois a teologia é tão dinâmica quanto a nossa realidade.
Na passagem em questão vamos juntar partes de três evangelistas, ambos são a mesma passagem mas, um tem uma preocupação e outro tem outra. Quando observadores vislumbram o mesmo acontecimento as suas conclusões nunca são 100% idênticas, é como que se um observasse pelo lado direito do acontecimento e outro pelo lado esquerdo; um vê do alto e o outro vê de baixo; um é escrito em uma época e outro uma dezena de anos depois.
Com isso espero obter uma compreensão melhor, vamos pegar detalhes de cada um destes autores, particularmente esta é a fórmula que eu mais gosto de estudar os textos e é também a forma mais frutífera.
Os personagens centrais são duas mulheres, uma já de idade e outra muito jovem; uma muito doente e outra morta; uma tenta sobreviver e outra recebe a interseção de seu pai, junto a Jesus, e ressuscita.
Novamente um texto rico em símbolos e aqui temos um marco muito importante que transforma o velho e também marca o início do novo.
Para contrastar melhor vou pegar partes de um evangelista e remontar o mesmo texto a fim de fazer uma única passagem. Mas mesmo assim recomendo a leitura integral das três passagens posteriormente.
As passagens e as seqüências são as mesmas sem remover absolutamente nada e fica como se houvessem três narradores intercalando-se:

Mateus (9, 16 – 17) - “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão torna-se maior. Nem se põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, estouram os odres, o vinho se entorna e os odres ficam inutilizados. Antes, o vinho novo se põe em odres novos; assim ambos se conservam”.
Marcos (5, 21 – 39) - “E de novo atravessando Jesus de barco para o outro lado, uma numerosa multidão o cercou, e ele se deteve à beira-mar. Aproximou-se um dos chefes da sinagoga, cujo nome era Jairo, e vendo-o, caiu aos seus pés. Rogou-lhe insistentemente, dizendo: “Minha filhinha está morrendo. Vem e impõe nela as mãos para que ela seja salva e viva”. Ele o acompanhou e numerosa multidão o seguia, apertando-o de todos os lados.
Ora, certa mulher que havia doze anos tinha um fluxo de sangue e que muito sofrera nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem nenhum resultado, mas cada vez piorava mais, ouvira falar de Jesus. Aproximou-se dele, por detrás, no meio da multidão, e tocou seu manto. Porque dizia: “Se ao menos tocar suas roupas, serei salva”. E logo estancou a hemorragia. E ela sentiu no corpo que estava curada de sua enfermidade. Imediatamente, Jesus, tendo consciência da força que dele saíra, voltou-se para a multidão e disse: “Quem tocou minhas roupas? Os discípulos disseram-lhe: “Vês a multidão que te comprime e perguntas ‘Quem me tocou?’ Jesus olha em torno de si para ver quem havia feito aquilo. Então a mulher, amedrontada e trêmula, sabendo o que havia sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade. E ele disse-lhe: “Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz fique curada desse teu mal”.
Ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga dizendo: “Tua filha morreu. Por que perturbas ainda o Mestre?” Jesus, porém, tendo ouvido a palavra que acabava de ser pronunciada, disse ao chefe da sinagoga: “Não temas; crê somente”. E não permitiu que ninguém o acompanhasse, exceto Pedro, Tiago e João, o irmão de Tiago. Chegaram à casa do chefe da sinagoga, e ele viu um alvoroço. Muita gente chorando e clamando em voz alta. Entrando disse: “Por que este alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está dormindo”. Lucas (8, 53 – 56) – “E caçoavam dele, pois sabiam que ela estava morta. Ele, porém, tomando-lhe a mão, chamou-a dizendo: “Criança, levanta-te!” O espírito dela voltou e, Marcos (42) no mesmo instante, ela ficou de pé,  pois já tinha doze anos. Lucas (8, 55 – 56) E ele mandou que lhe dessem de comer. Seus pais ficaram espantados. Ele, porém, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que acontecera.

Observando a introdução que Mateus da a esta passagem, ele se preocupa com um detalhe importante que está nos exemplos que Jesus ricamente propõe em forma de parábolas, que são os odres e os remendos. Para os odres velhos Jesus é o vinho velho, profetizado e esperado pelo antigo judaísmo (Messias ou Filho de Davi); e para os odres novos Jesus é o vinho novo, a Boa Nova de Deus, a mesma fórmula é aplicável aos remendos velhos e novos.
Marcos nos diz o nome do pai da menina: Jairo, que vem hebraico e que quer dizer: iluminado de Deus, animado por Deus. A profissão do Sr. Jairo é chefe de sinagoga, ele é uma pessoa que está a frente da comunidade judaica de sua época, este pai ligado às tradições compreendeu quem é Jesus.
Marcos nos mostra a movimentação da mulher hemorroíssa, que também está em busca da ajuda de Jesus: Aproximou-se dele, por detrás, no meio da multidão, e tocou seu manto. Porque dizia: “Se ao menos tocar suas roupas, serei salva”. Os doze anos que aquela mulher sofreu também nos da uma boa pista (doze tribos, comunidades em comum) e por ter uma certa idade, aqui ela representa o antigo – odre velho.
Com a menina o número doze também se repete, assim como no Novo Testamento (doze são os Apóstolos) e por ser uma criança representa o novo – odre novo.
Tanto o Antigo quanto o Novo estavam correndo perigo, para o Antigo a ignorância e o poder adquirido que corrompeu os seus lideres e agora se sentem este "poder" ameaçado por Jesus (menos Jairo). A ameaça para o Novo, era a ignorância, pois seus discípulos ainda haviam compreendido a exata dimensão do que quer dizer ressurreição, tanto que quando Jesus é capturado e condenado, todos fogem.
Lucas é quem nos da uma pista maravilhosa quando escreve: O espírito dela voltou, muito semelhante a Pentecostes, quando o medo de todos ameaçava o Projeto, e quando o Espírito de Jesus retorna com sua luz, todos entendem a dimensão real da sua missão e se espalham para levar a Boa Nova à todos. E o mesmo projeto que parecia ter morrido junto com Jesus, é reavivado e tem a sua sequência.  
Com estes elementos Jesus quer nos mostrar que não se faz necessário extinguir o antigo e iniciar algo totalmente novo, Jesus é a continuação do judaísmo que a final encontrou o seu anunciado messias e aos Apóstolos é reservada a tarefa de levar este Jesus a todos os demais, jogar a rede do outro lado, ir para outras margens, tanto que, quando Jesus encontra a samaritana Ele não se mostra preocupado em converte-la, nem tão pouco o geraseno, Jesus somente está preocupado com transformar a realidade caótica em consciência, amor, justiça...
Aos desejosos por tradição Jesus é o vinho velho, pois, todas as profecias se convergem à Ele; aos frustrados com o antigo, Jesus é o vinho novo. Jesus tanto se apresenta como vinho velho para o odre velho, como vinho novo para o odre novo.
Quando se faz um levantamento teológico uma observação muito importante é determinar, se possível, em que dia da semana está a passagem, e quem nos diz é Marcos, dois versículos a frente: (6, 2) Vindo o sábado..., isto nos coloca na sexta-feira que é o dia do sacrifício de Jesus (cisão, velho e novo).
Em Jesus, ser um jarro novo ou não é escolha de cada um, não necessariamente temos que quebrar o jarro velho, a final de contas, um jarro feito hoje amanhã também envelhecerá.
Estes conflitos também estão presentes nos dias de hoje, principalmente em duas instituições: família e religião. As religiões estão no mesmo caso da mulher e da menina e a família é o mesmo dos remendos. A solução para ambas continua sendo a mesma, Jesus.


Quadro (detalhe): Carlos Araujo - "Talítha kum" Bíblia - Citações"
Esta reflexão também teve a colaboração de Maria Helena.